Certo e errado são convenções que confirmam-se com meia dúzia de atitudes.
Martha Medeiros
(…)Todo mundo teoricamente de acordo, porém a vida não é feita de
teorias. E o resto? É tudo aquilo que a gente mal consegue verbalizar de
tão intenso? Desejos, impulsos, fantasias, emoçoes. Ora, meia dúzia de
normas preestabelecidas não dão conta do recado. Impossível enquadrar o
que lateja, o que arde, o que grita dentro de nós. Somos maduros e ao
mesmo tempo infantis, por trás do nosso autocontrole há um desespero
infernal. Possuímos uma criatividade insuspeita, inventamos musicas,
amores e problemas e somos curiosos, queremos espiar pela fechadura do
mundo para descobrir o que não nos contaram. Todo o resto.
O amor é certo, o ódio é errado e o resto é uma montanha de outros
sentimentos, uma solidão gigantesca, muita confusão, desassossego,
saudades cortantes, necessidade de afeto e urgências sexuais que não se
adaptam as regras do bom comportamento.(…) Todo o resto é o que nos
assombra, as escolhas não feitas, os beijos não dados, as decisões não
tomadas, os mandamentos que não obedecemos, ou que obedecemos bem demais
– a troco de que fomos tão bonzinhos? Há o certo, o errado e aquilo que
nos dá medo, que nos atrai, que nos sufoca, que nos entorpece.(…) Todo o
resto é muito vasto. É nossa porra-louquice, nossa ausência de
certezas, nossos silêncios inquisidores, a pureza e inocência que nos
mantem vivos dentro de nós, mas que ninguém percebe, só porque
crescemos. A maturidade e um álibi frágil. Seguimos com uma alma de
criança que finge saber direitinho tudo o que deve ser feito, mas que no
fundo entende muito pouco sobre as engrenagens do mundo. Todo o resto é
tudo aquilo que ninguém aplaude e ninguém vaia…
…porque ninguém vê.
Nenhum comentário:
Postar um comentário